Um dia o grão de areia, imóvel na escuridão do fundo do mar, no meio de tantos grãos de areia, mas sentido-se sozinho porque não podia falar, sentiu-se estremecer, nunca sentira tal coisa, os grãos de areia debaixo dele estremeciam, até que se sentiu mover, foi algo estranho, porque nem quando era arrastado pelas correntes sentia tal sensação. Rebolou e rebolou e voltou a rebolar, batendo contra os outros milhões de grãos de areia, até que parou, mas era estranho porque sentia que estava em movimento. Repentinamente sentiu um vazio imenso, tinha a certeza que nunca tinha experimentado tal sensação, estava a cair a uma velocidade que nunca tinha caído. Sentia-se pesado.
Após a queda, para seu azar, ficou mais uma vez enterrado no meio de outros milhões de grãos de areia. Estava escuro. Ouvia uns barulhos estranhos, uns ruídos semelhantes ao que alguns peixes faziam. Tentou ouvir com atenção e perceber o que era, mas nada feito. Então ali ficou umas horas, uns dias sempre no meio da escuridão no meio de tantos outros grãos de areia, com a desvantagem que agora não ouvia as conversas dos peixes.
Suspirou de tristeza. Sabia que o esperariam muitos dias de escuridão sem nada ouvir, nem ver. Se ao menos pudesse falar, mas como se sabe, os grãos de areia não falam, sempre ouvira os peixes dizer que os grãos de areia não falavam.
Continua
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