sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Donas de casa

Com a actual situação que o país vive, começo a pensar se não seriam úteis umas dicas de umas verdadeiras donas de casa, para que se pudesse realmente poupar, evitando gastar dinheiro em coisas fúteis como em automóveis topo de gama e ajudas de custo e representação que dariam para comprar uns quantos T2 na Reboleira, e gastar moderadamente nas coisas realmente essenciais como saúde e educação, etc. Mas isto sou só eu a falar. E eu sou leigo.

Mas...

Infelizmente os senhores que estão no governo, com toda a certeza não tiveram uma mãe como a minha, que me incutiu desde sempre que deveria poupar e comprar apenas se pudesse, não ir para além das minhas possibilidades. A propaganda que a comunicação social faz de sensibilização à poupança, é tudo menos nova para mim. Querem ensinar os portugueses a escolher os produtos mais baratos nos hiperes, dar-lhes a conhecer convenientemente os produtos de marca branca (o continente agradece), a tomar banho mais depressa, a apagar as luzes quando não são necessárias, a desligar os transformadores da ficha, a ir ao cabeleireiro uma vez por mês, a meter uma garrafinha no autoclismo, a tomar pequeno almoço em casa, etc...

Fantástico, digo eu.

Sempre admirei a inépcia daquelas pessoas que "não sabem" poupar, é tão simples que possivelmente, um dia destes colocarão um símio a fazer essa sensibilização, até porque se bem me lembro, já foi utilizado um para sensibilizar à reciclagem. Esperem para ver.

Voltando às donas de casa, as verdadeiras, aquelas que têm que gerir um lar composto por vários filhos, por vezes com orçamentos verdadeiramente reduzidos e milagrosamente geridos ao cêntimo e ainda assim não faltam com nada aos filhos, cada vez mais exigentes, essas senhoras deveriam sem sombra de dúvida estar a governar o nosso país. E tenho pena que os senhores que nos governam, nunca tenham tido mães assim, ou então tiveram mas não quiseram aprender.

É bem verdade que cada um é filho da sua mãe.



segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Eclipse

Imaginem um casal, casado há já uns anos, com uma vida profissional estável e um núcleo familiar sólido. Este casal tem tudo para ser feliz com a excepção de que descobriram há cerca de 10 anos que não podiam ter filhos, ou pelo menos foi o que lhes disse uma médica quarentona, sem filhos por opção. A razão pela qual a médica aconselhou a senhora a não ter filhos foi a sua doença mental, esquizofrenia, que para estar controlada implicava a toma massiva de medicação e consequentemente a quase impossibilidade de poder gerar uma criança.

Visto a impossibilidade de serem pais biológicos, este casal queria muito partilhar o seu amor com uma criança, e como tal começaram a pensar na adopção. Então há cerca de 7 anos começaram a sua longa jornada na tentativa de adoptar uma criança.

Trataram das toneladas de papelada necessária, das burocracias associadas, assistentes sociais em casa, entrevistas, acompanhamento, etc.

Após a enorme parafernália de procedimentos adjacentes ao processo, restava-lhes agora esperar. E esperar. E esperar.

Sempre que se dirigiam à segurança social, as assistentes sociais que os acompanharam desde o inicio do processo apenas tinham para lhes dizer “Têm que esperar” e “Não percam a esperança”.

Passaram 4 longos anos nesta corrida quase mensal à segurança social na esperança que já houvesse uma criança para eles. Obviamente que tudo tem um limite e a paciência humana não é excepção.

Recorreram aos tribunais para provar que eram mais que competentes para receber, criar, dar afecto e educar uma criança, um ser humano e que apesar da doença mental da senhora, que sempre esteve controlada, não era impedimento absolutamente nenhum, isto, segundo outra médica que acompanhava agora o estado da senhora.

Ganharam, pelo menos em tribunal.

Depois da vitória em tribunal e do aparecimento de uma nova luz, uma brisa de ar fresco, continuaria a espera incessante.

O tempo foi passando e o casal agora na casa dos quarentas, dirigiu-se mais uma vez à segurança social. Após explicarem às assistentes sociais que estavam a ficar com uma certa idade para adoptarem uma criança mais pequena, já que quando a criança tivesse na casa dos vintes, eles já teriam sessentas, que não se importavam de adoptar uma criança mais velha.

Ao que as assistentes respondem e vou citar: “Vocês não são competentes para educar uma criança de 3 ou 4 anos quanto mais uma de 10”. Ouvir isto magoa, mesmo para quem está de fora. E as pessoas não são de ferro. “Porque é que diz isso?” – pergunta o senhor a tentar não perder a postura, ao que a assistente lhe pergunta: “Se tiver um prato de sopa e um bife e a criança disser que não quer comer a sopa, o que é que você faz?”. Medo de uma assistente social. “Dir-lhe-ei que tem de comer a sopa primeiro”. A assistente social insiste: “E se a criança disser que não vai comer mesmo a sopa?”… não vale a pena continuar com o diálogo, acho que já me fiz entender.

A resiliência humana não é eterna nem contínua, obviamente que não vale a pena referir as frustrações, as depressões, as discussões consequentes de todo este processo.

Que alguém não queira ter filhos, é perfeitamente legítimo, o problema é quando esse alguém não quer e tem o poder de impedir outro alguém de os ter. Já alguém dizia que a nossa liberdade termina quando começa a liberdade dos outros.

E digo com convicção que não foi a primeira médica que desaconselhou a senhora a ter um filho biológico, porque isso é possível segundo a “outra médica” e não foram as assistentes sociais com contornos macabros que os vão impedir de dar amor a uma criança, de partilhar o amor com uma criança, de salvar uma criança, um ser humano.

Em Dezembro vemo-nos em tribunal.

“Enquanto houver estrada pra andar
A gente vai continuar
Enquanto houver estrada pra andar
Enquanto houver ventos e mar
A gente não vai parar
Enquanto houver ventos e mar”

Jorge Palma

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Arranjo tomatal

Sempre me intrigou aquele lendário tique que uma razoável percentagem de homens tem. Refiro-me àquele gesto, normalmente feito em público, que consiste numa inclinação de cerca de 10,5º do troco para a frente, leve flexão de um dos joelhos à escolha, dobra do dedo mindinho juntamente com o anelar, podendo também juntar-se à festa o dedo "pai de todos", dependendo da intensidade do arranjo.

Após a devida preparação, leva-se a mão escolhida à zona virinhal (nunca tive anatomia) e enfia-se o conjunto de dedos na folga entre a coxa e os testículos, com os dedos direccionados para os ditos e finalmente coça-se o(s) testículo(s) aprisionado por uma cueca demasiado marota, um pêlo púbico mais atrevido ou simplesmente por tique, porque sabe bem.

Quem o faz nem se apercebe que o faz, acredito até que seja uma alternativa "aceitável" publicamente à masturbação, pelo prazer que dá.

Nota: ponderei colocar uma imagem para melhor ilustrar o gesto mas acho que não será difícil imaginar.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Spice

Hoje é um dia como outro qualquer, com a excepção que este costumava ser o teu dia.

Frases

"A política é como a religião, não acredito nela mas tenho perfeita noção que a sua existência produz um estranho conforto."

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Orçamento de(t)estado

Nestes últimos dias tem-se assistido a uma panóplia de informação e respectiva controvérsia acerca do O.E.(utilizar apenas as iniciais não cansa tanto ao ouvido nem à leitura) e como tal senti-me na obrigação de dar a minha opinião sobre o assunto.

A Ascaridíase é um parasita causado pelo verme Ascaris lumbricoides, mais conhecido por lombriga. São vermes sem segmentação e com tubo digestivo completo. A reprodução é sexuada, sendo a fêmea maior que o macho.

Durante a infecção, o ser humano liberta os ovos do parasita juntamente com as fezes, sendo que a larva se desenvolve em ambientes quentes e húmidos (ambientes tropicais), a qual permanece dentro do ovo. A infecção dá-se através de ovos, água e outros alimentos infectados.
Assim que eclodem, as larvas são libertadas no intestino delgado, alcançando a corrente sanguínea através das suas paredes e infectando o fígado, passando pelo coração e pulmões. A maturação, que dura aproximadamente dois anos, termina no intestino delgado, onde se dá a cópula e a libertação dos ovos juntamente com as fezes.

Espero que tenha sido bastante explícito e sucinto.


quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Amor e vida

Todos tentam definir o que é o amor e a vida
Só porque os viveram à sua maneira.
Mas o amor e a vida são adimensionais
Porque não há regra nem lei que os defina.

Todos sabem o que os faz felizes,
Mas nem toda a gente sabe o que a felicidade significa.
Há diferentes pontos de vista e prioridades,
Maneiras de viver e amar mais ou menos eficazes.

Todos seguem um caminho e uma ideia,
Procuram desenfreadamente por algo que não sabem bem o que é,
E apesar de já ser tarde quando ainda é cedo,
Há sempre tempo para apanhar a próxima boleia.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

O outro mundo do Zé (parte III)

Continuaram de volta do telemóvel mais alguns minutos, o Zé jogava e o Pedro dava as instruções, o Zé não queria outra coisa e pela primeira vez desde alguns dias que se esquecera dos berlindes por completo. Queria explorar, queria descobrir, queria brincar com aquela máquina de jogos que também era um telefone, queria tirar fotografias, ouvir as músicas e enviar mensagens aos amigos.

A tarde já estava a cair.

-Acho melhor ir embora. - disse o Pedro já com medo de um sermão.

O Zé descolou os olhos do ecrã e reparou com espanto que o sol já quase não se via.

-Ahhh!! Já devia estar em casa!! - gritou o Zé.
-É melhor irmos. Posso ficar com o teu número?
-Hum...eu não o sei de cor...encontramo-nos amanha aqui à mesma hora.
-Amanha já não posso, vou embora para casa depois de almoço.
-Hum...então da próxima vez que vieres pode ser que nos voltemos a encontrar, ah e não te esqueças do telemóvel.
-Está bem.

Deram um aperto de mão e foi cada um para seu lado.
O Zé correu até casa e assim que entrou na porta da cozinha viu a mãe a preparar o jantar.

-Oh filho, tão tarde?
-Desculpa mãe, encontrei um amigo pelo caminho e...estivemos a jogar ao berlinde.
-Esses berlindes não te saem da cabeça pois não?
O Zé esboçou um sorriso amarelo.
-Vem cá. - disse a mãe. - Toma, são para ti.
Um saco enorme de berlindes.
O Zé agradeceu, pegou-lhes e pousou-os em cima da mesa.
-Mãe...
-Diz!
-Já sei o que quero para o Natal.
-Oh filho mas ainda estamos em Setembro.
-Mas eu já sei.

Fim.

Cais



Toma, dou-te o meu cais!
Encosta o teu coração ao meu,
Vamos viver como nunca mais.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

O outro mundo do Zé (parte II)

Na aldeia onde o Zé morava toda a gente se conhecia, todos sabiam tudo de toda a gente e quando aparecia alguém novo, era logo motivo de conversa e de mistério.

-Tu não és de cá pois não?
-Não, vim visitar a minha avó, ela está doente. -disse o rapaz ainda com cara de sofrimento.
-Quem é a tua avó?
-Chama-se Maria.
-Maria? Marias há muitas. -e esboçou um sorriso de gozo.
- Ela mora naquela casa grande com um terraço, ao pé do mercado.
-Ah!!A Dona Maria Pacheca, já sei quem é. Não sabia que ela estava doente.
-Ela diz que tem um malzinho ruim. Os meus pais andam muito tristes e dizem que ela vai ter que ir para o hospital e ficar lá internada.
-Como é que te chamas?-rematou o Zé para mudar de assunto.
-Pedro. E tu?
-Chamo-me Zé Miguel, mas toda a gente me chama Zé. O que andas por aqui a fazer? A casa da tua avó ainda fica longe.
-Os meus pais disseram que era melhor eu vir dar uma volta, mas isto aqui é uma seca, não há nada para fazer.
-Isso que tens na mão é um telemóvel? - perguntou o Zé já com uma curiosidade enorme.
-Sim é!
-Posso ver?
-Toma, vê!

Os olhos do Zé brilhavam. Contava-se pelos dedos das duas mãos as vezes que segurara um telemóvel, os pais não o deixavam mexer nos seus, diziam que era uma coisa de adultos, mas a curiosidade era tão grande que sempre que podia, mexia à socapa. Mas o problema é que não sabia mexer muito bem naquilo.

-Como é que se desbloqueia?
-Carregas aqui e...aqui!

O Zé sentiu-se poderoso. Tinha na mão uma máquina que ainda não conhecia muito bem, mas que ele pressentia que era poderosíssima. O entusiasmo era bastante diferente do que sentia quando jogava ao berlinde. Os berlindes pareciam estúpidos ao pé do telemóvel, eram apenas redondos e tirando alguns com umas cores mais estranhas, eram apenas bolas de vidro.Mexeu nos botões todos, percorreu os menus, procurou os jogos.

-Onde estão os jogos? -perguntou o Zé já irrequieto. Queria descobrir tudo o que o telemóvel tivesse para oferecer naquele momento.
-Dá cá que eu mostro-te. Entras no menu principal, depois aqui e...aqui. Agora é só escolheres qual queres jogar.
-Dá cá, dá cá! Deixa-me jogar!
-Posso ver o teu?
-Hum...deixei-o em casa.

(Continua)

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O outro mundo do Zé

Malaquias contava, orgulhoso, os berlindes que tinha rapado ao Zé. Tinham terminado um jogo de berlinde no intervalo do recreio.
O Zé estava triste como a noite, os berlindes eram o seu entretenimento, eram acima de tudo, o seu tesouro, mas jogo é jogo e o Zé era um rapaz honesto.
A campainha tocou e voltaram todos para as aulas como um carreiro de formigas

A caminho de casa, o Zé pontapeava as pedras com os sapatos gastos e poeirentos e contava as libelinhas que passavam. Ao chutar uma pedra com entusiasmo, tanto entusiasmo que nem para a frente olhou, não reparou numa figura um pouco mais à sua frente. Puxou a perna a trás e pimba. A pedra acertou em cheio na canela da tal figura e quase instantaneamente ouviu um palavrão daqueles que só tinha ouvido uma ou duas vezes e que nem sequer sabia muito bem o seu significado. O Zé imobilizou-se e encolheu-se tamanho foi o susto.
A figura, que parecia que dançava ao pé coxinho mesmo à sua frente, continuava a remorder e a praguejar, mas desta vez mais baixo.

A figura era tão engraçada que o Zé não resistiu em arreganhar a tacha.

A figura lá meteu o pé no chão a medo, não sem antes esfregar a canela com a mão, tanto, que parecia que ia fazer fogo.

O Zé tirou o pequeno sorriso que tinha na cara e desculpou-se mostrando cara de arrependido.

-Ouve lá, tu és parvo ou ainda andas a tirar o curso?? Quem é que anda a chutar pedras contra as pessoas??
-Foi sem querer!!murmurou o Zé.
A figura agora mais perceptível era pouco mais alta que ele, era um rapaz com um penteado que fazia lembrar o padre Artur, um padre novo que tinha chegado há dois anos à paróquia, e que andava sempre bem apresentável.

-Estás desculpado disse o rapaz entre dentes.

(Continua)

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Crise de 1/3 de idade

Eu poderia dizer que era crise de 1/4 de idade, mas estaria a ser demasiado optimista tendo em consideração a quantidade de vícios que tenho, portanto vou mesmo dizer que estou a passar pela crise de 1/3 da idade.
Sinto que estou a passar a fase da pós-adolescência, que implica falta de entusiasmo por brincadeiras ou piadas que antes me definiam e que estranhamente fazem rir toda a gente à minha volta excepto a mim. Na verdade eu rio, um riso tão amarelo como qualquer coisa imensamente amarela. Implica o desejo por locais sossegados, um sofá num fim de semana à tarde, uma cerveja em vez de 5 ou 6, reflectir sobre coisas realmente sérias e preocupantes, a noção da morte, a necessidade de assentar, arranjar um trabalho, comprar um carro e uma casa, aprender a controlar melhor os "foda-ses!!!", os "vai pró caralho e não me fodas mais o juizo!!!", ou pelo menos dizê-los apenas mentalmente com aquele sorriso, começar a julgar pessoas no mínimo 3 anos mais novas que eu que usam vestuário que eu nunca usaria, fazem coisas que eu nunca faria e falam de uma maneira estranha até para mim que tenho 24 anos.
Implica gostar de falar ainda menos e começar a ouvir melhor os outros, começar a criar uma rotina de ler 2 ou 3 jornais online e comprar a Sábado em vez da GQ, ser menos tolerante para coisas intoleráveis, comer sem fazer barulho e mascar chicla de boca fechada. Implica tudo isto e muito mais.

Com estes factos penso que não quero chegar sequer aos 40, porque se para mim já me custa tanto adaptar à rapaziada e ao mundo em geral que me rodeia nem quero imaginar o que sente uma pessoa com 60 ou 70 anos. No outro dia entrei na Worten e vi lá tecnologia que nunca tinha visto, parecia que estava noutro planeta, coisas que eu nem sabia que já existiam...enfim!

Começo a achar que, ou sou um sacana completamente desactualizado e sem paciência ou sou o gajo de 24 anos mais adulto do mundo.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Névoa

Queria muito sinceramente dizer-te algo
Falar-te ao ouvido para que ninguém mais ouvisse
Ou escrever-te num papel de rascunho
Tudo o que eu sentisse

As folhas de papel não me parecem especiais
E as minhas palavras muito menos
Um silêncio seria bom de mais
No meio de tantos que já temos

A tinta mental está seca e desnutrida
Calo-me quando quero falar
E apago constantemente mensagens da minha vida
Que com o tempo vou recuperar

A névoa é densa e perigosa
Engana a percepção, quase que cega
E numa música silenciosa
Guia-me, quase flutuado, através dela

Adormeço nas minhas coisas
Nada me chega, nada me sai
Determino-me sem poemas nem prosas
Num repouso que não me descontrai

Em passo largo seguem dias
Que parecem segundos indiferentes
Na melancolia das noites frias
Aconchegantes e insuficientes

E degustando um copo de vinho
Ouvido uma música que não se percebe
Mas que me fala com carinho
Sai-me o que escrevo tão breve