sábado, 22 de junho de 2013

O último balancé



Voei  entre as amarras que me prendiam ao infinito da minha inocência
Sentado na madeira moldada pelas mãos de ouro
Que sabiam mais que o mundo.
Era o meu balancé, o melhor balancé já alguma vez feito.
Passava as minhas tardes a voar, para a frente e depois para trás
E assim sucessivamente.
Apenas balançando num movimento repetitivo, não havia nada em que pensar
Havia apenas que voar.
Depois desse não houve mais nenhum, a madeira do balancé apodreceu com o tempo
E com ele surgiu o pensamento e amadureceu a essência do meu ser.
Não me fizeste mais nenhum balancé.
Não porque não quisesses, mas porque não podias.
As mãos de ouro que moldaram a madeira, estavam agora sem movimento.
No entanto, nunca perderam o brilho, a delicadeza e o valor.
O último melhor balancé do mundo foi meu.
Obrigado avô.


sábado, 6 de abril de 2013

Assim

E assim, tal como tudo começou
Tudo vai permanecer na indiferença, que é a que mais destrói.
Da cegueira que me inundou e quase afogou
Ao desprezo que agora sinto.
A pequena chama que ardia em mim tímida mas furiosa
E que agora se apagou.

Serei mais um até ao infinito 
Nesse teu universo obscuro de números
Que contas e guardas orgulhosamente na algibeira.
Serás tu e eu também
Felizes
Assim.



domingo, 20 de janeiro de 2013

Longa história curta

Ele esperava incessantemente por uma paz interior que teimava em chegar
Quando finalmente atingiu o seu objectivo, percebeu que estava bem
Todas as horas seriam assim e prometeu a si mesmo ser feliz
As horas passaram, depois os dias, depois as semanas
Ao longo de todo esse tempo era como se fosse outra pessoa
Sentia que se tinha transformado em algo tão puro como ele mesmo
Tão verdadeiro e honesto como a própria vida
Soube lidar com a dor e com a guerra interior que ainda hoje o atormentam
Mas continuava a não entender o porquê

O porquê de se sentir bem quando achava que devia sentir-se mal.