terça-feira, 29 de junho de 2010

Sonho meu




Hoje sonhei contigo, sim contigo.
Mas acordei com a maldita realidade que se impunha
Sobre as florestas densas, obscuras e perversas dos meus sonhos.
Desejei poder dormir para sempre
Para simplesmente poder estar contigo.
Que todos os meus sentidos estivessem adormecidos,
Que a neblina presente se desvanecesse
Para eu te poder ver melhor.
Abdicaria de tudo por mais um sonho ou um beijo acordado
Fugiria para lado nenhum e para o nada
Esconderia-me dos pecados no escuro da areia azul
Ter-te-ia uma vez mais
Ficaríamos embalados pela brisa marítima gelada da noite de Verão.
E quando a hora se impusesse
Levaríamos o perfume um do outro para casa
Um beijo na testa
E um adeus.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Verão

Tenho tantas saudades!!

Quando era ainda mais miúdo do que sou agora, tive a sorte de, em parte, ter sido criado e educado pelos meus avós maternos, que sempre foram pessoas simples do campo que tinham e têm o privilégio de viver uma vida saudável com todas as mazelas que a velhice implica.

Como lembro com saudade quase chorosa aquelas tardes de brincadeira na terra do Egas, onde a garotada se juntava toda quase de manhã à noite a jogar à bola e a mais uns quantos jogos que envolviam canelas pisadas, joelhos esfolados e muita, muita roupa suja que faziam os pesadelos da minha mãe. Dizia-lhe sempre:"a máquina é que lava" ao que ela me respondia:"e quem é que a mete na máquina e a mete a secar no fio e a passa a ferro?"...pois, eu só dizia "oh!!"

A terra do Egas era um terreno enorme com erva verde, em frente à casa dos meus avós, onde actualmente se encontra uma enorme urbanização. Era um sítio do qual guardo as memórias mais desfocadas e ao mesmo tempo mais intensas. Tinha um amigo que morava perto da casa dos meus avós que se chamava Steven, os pais dele eram emigrantes na América, e não é que ele tinha uma piscina(na altura parecia-me gigante). Não, asseguro que fui amigo dele antes de saber que ele tinha piscina. Recordo que a mãe dele nos dava tarefas de jardinagem para fazer e só depois podíamos ir para a piscina. Ah e ele tinha um parque com carrosseis e um campo de ténis, na altura os carrosseis eram a opção mais atractiva. Nadávamos tardes inteiras, sem preocupações nenhumas, sem responsabilidades, sem pressas para nada, aquela água acalmava-me. Grandes tardes que eu passei e quanto ao Steven já não o vejo há uns anos.

Havia a zona dos montes, que consistia em montes enormes de areia branca que era dragada do fundo do mar e estava ali para venda. Sempre foi uma zona "perigosa" porque iam para lá "rapazes graúdos" fumar, drogaditos e casais aliviar as suas tensões e essa zona sempre me foi interdita pelos meus avós, mas a realidade é que uma vez ou outra dava lá um salto.

Havia as valetas onde corriam águas, na altura límpidas nas quais fazíamos corridas com os barcos feitos de esferovite com um pau espetado a fazer de mastro ou simplesmente pescávamos umas enguias de palmo.

Por trás da casa dos meus avós havia um terreno enorme com milho altíssimo (ou então era eu que era mais pequenito) no qual eu gostava de correr e jogar às escondidas, o que implicava umas quantas bandeiras(nome dado à parte de cima da planta do milho) partidas e o que resultava num sermão por parte do avô. O que gostava muito era de rebolar nos milhares de grãos de milho espalhados pela eira a secar ao sol e fazer de conta que nadava neles. Havia também aqueles rapazes mais velhos que fumavam umas barbas de milho enroladas em papel. Só mais tarde experimentei por curiosidade e não recomendo a experiência a ninguém.

Os meus avós sempre cultivaram muita coisa e o cheiro mais intenso que me faz despertar essas recordações, é a do tomate fresco que por vezes corto para fazer salada. Quando passeava no terreno com o Piloto (nome do cão dos meus avós que ainda é vivo) e passava pelos tomates já quase maduros ficava com aquele cheiro entranhado tão fundo que penso que ficou gravado na minha alma.

Havia também a praia dos tesos, que era uma praia considerada dos pobres ou dos simples, daí o nome "tesos". Era uma praia simples, pequena e com muita lama que ficava por trás da zona dos montes de areia branca, não era vigiada, nem tinha nada de atractivo, era apenas a praia onde de vez em quando ía. Ficava de frente para o Porto Comercial e por isso tinha zonas muito fundas o que implicava que só tinha autorização para ir para a água se fosse com alguém adulto, eu cumpria.

Havia a zona do Forte, que recentemente foi recuperada(finalmente!!) à qual eu chamo a zona do pocito, já que consistia numa espécie de lago gigante de água salgada com areia branca à volta, que também não era vigiado, portanto eu só tinha autorização de entrar na água sob controlo das "primas". Foi lá que aprendi a nadar ensinado pelas minha primas mais velhas. Também lá passei uma tardes bastante agradáveis.

Mais tarde recordo as idas à praia da Barra e à praia de Mira com os meus tios de França que no verão vinham cá de férias e posso dizer que todas estas recordações foram despoletadas pela música que se segue, porque era a música que eu ouvia no carro quando íamos para a praia a cantarolar pelo meio "vaaamos para a praia, oh ohohohoh". A música, admito, não é grande espingarda, mas foi daquelas coisas que me ficaram gravadas na alma.

É por tudo isto que recordo o Verão com saudade, é por tudo isto que eu acho que tive uma infância privilegiada.





Residência parte VIII

Finalmente acabaram as aulas e tenho a sensação que este ano passou a voar, ainda parece que foi ontem que começou o ano lectivo. Quanto mais velho fico, mais tenho a sensação que tudo passa muito mais depressa, já não é como quando era miúdo, em que os anos lectivos pareciam eternidades, mas para compensar as férias de verão eram quase infinitas, e no entanto queria sempre mais...todos queríamos.

As residências encontram-se na fase intermédia entre fim de aulas e o inicio árduo dos exames, somos apenas meia dúzia de gatos pingados por aqui, já que o resto do pessoal aproveita para passar uns dias de férias em casa antes de se enclausurarem. A minha hora de ir a casa em breve também vai chegar, embora ainda falte a conclusão de relatórios, entrega e discussão dos mesmos.

Devo dizer que desde que cá estou nunca assisti a um ano lectivo tão calmo, tão sereno, demasiado parado como este. Não houve exaltação, excesso, perdição, estupidez, arrependimento no dia seguinte...bem talvez tenha havido, mas em menor quantidade.

Algo que me marcou e custou foi ter levado a viola para casa, ela era a minha companheira, o meu escape, o meu poço de inspiração, a realidade é que senti uma enorme necessidade de a levar embora daqui, já que é um reflexo daquilo que eu próprio quero, quero passar esta fase, dar o passo seguinte e desejar ter saudades de voltar aqui e estar com aquelas pessoas e cometer aquelas loucuras.

Avizinha-se uma fase que me faz lembrar a da selecção Portuguesa, do tudo ou nada. Ou é este ano que acabo ou ainda vou ter que trazer o raio da viola outra vez...espero mesmo que não, até porque se a trouxer, tenho que trazer o jambé também...

Estou preparado para me auto-flagelar em clausura com tudo o que isso implica.

Desejem-me sorte!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Caracol



Qual é o objectivo de um caracol quando segue o seu caminho?
Muito possivelmente o caracol age por instinto e não por objectivos, mas sempre me fez confusão como é que o caracol sabe, se é que sabe, para onde vai e porquê e qual é o instinto que lhe "diz" que ele deve subir uma parede, é que penso que eles não sabem que se caírem podem morrer. Acho que a concha lhes dá uma falsa noção de segurança.

Quando reparei nos caracóis a subir uma parede de madrugada, estes pareceram-me as criaturas mais tristes do mundo, primeiro porque carregam a casa às costas o que faz deles criaturas leeentas e vulneráveis, e segundo porque nesta altura do Verão são devorados por nós à tonelada.

Talvez fosse o leve etilismo a falar, mas tive pena do raio dos bichos e questionei-me se um pires de caracóis regados com um molho à base de cebola picada, vinho branco, alho, salsa, bacon, tomate, chouriça vermelha e uma pitada de piri-piri, valeria a pena...!

É tão fácil apanhar caracóis que até dá pena, bichos assim fáceis de apanhar nunca deveriam ser tão saborosos, principalmente quando acompanhados por uma jola digna do bicho...

Eu adoro caracóis, este ano ainda não tive o prazer de os comer, mas são bons que se fartam e faço questão de os comer, mas juro que a partir deste dia, sempre que comer caracóis picantes, fungar aquele pinguito de ranho do nariz que se forma sempre que como algo picante, ser malandro de mais para pegar um lenço de papel para me assoar e engolir o meu próprio ranho, a partir deste dia vou questionar porque raio as pessoas têm nojo dos caracóis ranhosos.

Este post é dedicado à caracoleta que pisei (e matei) sem querer no dia que tirei a foto e aos muitos mais que irei comer durante o Verão.


Chuva que molha



Costumava pensar que quando a chuva cai
limpa tudo o que é mau, lava os maus pensamentos,
as más acções e os arrependimentos.
Mas na verdade quando chove apenas fico molhado.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Desesperando



Espera por mim junto ao infinito do meu tempo
E recorda com saudade tudo o que não passámos juntos.
Ouve as palavras mudas que te escrevi
E repete ao som de promessas cobardes
O pensamento que te impingi.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Stress

Por vezes é difícil, mas temos que tentar...portanto...



terça-feira, 1 de junho de 2010

Diabo



O Diabo anda por aqui...

Um pão por um verso



Não é que no sábado à noite, em pleno Bairro Alto, uma senhora se aproximou do grupo onde estava e me vendeu este poema...!?A senhora aproximou-se e deu-me um papelinho para a mão, de entre os muitos que tinha e disse, se lhe poderíamos dar umas moedinhas em troca para comer,"é mesmo para comer, isto está tão dificil...". Eu tendo um blog, em parte dedicado a poesia, fiquei logo derretido com aquela conversa do ladrão enquanto o Miguel abanava o dedo indicador com cara de caso atrás da senhora. Pedi para o ler e assim que terminei saquei da carteira e dei-lhe aproximadamente 1€. Sabia, como é óbvio que aquele euro iria ser investido em tudo menos em alimento, mas por um lado gostei de acreditar que sim, eu quis acreditar que sim, que ela iria comprar algo que a alimentasse, nem que fosse a alma, porque isso me fez sentir melhor comigo mesmo e com o mundo. Por isso mais uma vez eu digo...a ignorância é uma benção!


Queres comprar?



Cego quando vejo
Conto os dias por um beijo
Que parece não chegar

Facilmente imagino
Sonho acordado que nem menino
Cada hora de cada dia

Tento fugir, escapar por entre os fios do teu cabelo
Sem lhe poder tocar, sem poder vê-lo
Sem o reclamar meu

A tua liberdade consome-se
O teu pensamento destrói-se
Torna-se impuro

Sorris devagar com uma pressa nervosa
Numa cumplicidade só nossa
Que vai oscilando

Sei o que os teus olhos jorraram
Sei que já te amaram
Mas nunca como eu