Malaquias contava, orgulhoso, os berlindes que tinha rapado ao Zé. Tinham terminado um jogo de berlinde no intervalo do recreio.
O Zé estava triste como a noite, os berlindes eram o seu entretenimento, eram acima de tudo, o seu tesouro, mas jogo é jogo e o Zé era um rapaz honesto.
A campainha tocou e voltaram todos para as aulas como um carreiro de formigas
A caminho de casa, o Zé pontapeava as pedras com os sapatos gastos e poeirentos e contava as libelinhas que passavam. Ao chutar uma pedra com entusiasmo, tanto entusiasmo que nem para a frente olhou, não reparou numa figura um pouco mais à sua frente. Puxou a perna a trás e pimba. A pedra acertou em cheio na canela da tal figura e quase instantaneamente ouviu um palavrão daqueles que só tinha ouvido uma ou duas vezes e que nem sequer sabia muito bem o seu significado. O Zé imobilizou-se e encolheu-se tamanho foi o susto.
A figura, que parecia que dançava ao pé coxinho mesmo à sua frente, continuava a remorder e a praguejar, mas desta vez mais baixo.
A figura era tão engraçada que o Zé não resistiu em arreganhar a tacha.
A figura lá meteu o pé no chão a medo, não sem antes esfregar a canela com a mão, tanto, que parecia que ia fazer fogo.
O Zé tirou o pequeno sorriso que tinha na cara e desculpou-se mostrando cara de arrependido.
-Ouve lá, tu és parvo ou ainda andas a tirar o curso?? Quem é que anda a chutar pedras contra as pessoas??
-Foi sem querer!!murmurou o Zé.
A figura agora mais perceptível era pouco mais alta que ele, era um rapaz com um penteado que fazia lembrar o padre Artur, um padre novo que tinha chegado há dois anos à paróquia, e que andava sempre bem apresentável.
-Estás desculpado disse o rapaz entre dentes.
(Continua)
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